Vol. 1[]
Sob a luz do luar, um garoto choroso fez seu desejo em frente a fonte.
Uma Fada de uma terra distante, que havia decidido morar nas desocupadas Águas Termais ouviu em silêncio o seu desejo sem palavras.
As Fadas das Águas Termais nada sabem sobre memórias distantes ou sonhos profundos. Elas nascem da essência da água, descendentes diretas dos anjos. Então, quando a Fada curiosa saiu da água e ouviu o choro do coração daquele menino, ela ficou interessada em sua vida, mais nova e frágil que a sua. A Fada silenciosa estendeu seus dedos, frios como o orvalho da meia-noite e leve como uma fortuna perdida, e gentilmente acariciou a testa e bochechas do garoto.
Surpreendido por esse toque estranho, o garoto levantou sua cabeça e deu de encontro com o olhar da Fada.
"Você pode fazer meu desejo se tornar realidade?" Perguntou o garoto.
A Fada da Fonte ficou surpresa e confusa com essa pergunta presunçosa. Mas ela não podia falar, então simplesmente acenou com sua cabeça.
O garoto, satisfeito, foi embora.
Ele não sabia que a Fada da Fonte estava sozinha, sem amigos ou família, e que ela havia perdido uma grande parte de sua sabedoria.
Somente quando a água da fonte fluiu das rachaduras na pedra para o lago, e quando ela contemplou a imagem fragmentada da lua na água ondulante, ela lentamente recuperou a sua capacidade de pensar e imitar fragmentos da fala.
A Fada curiosa observa esse mundo com pureza, amor e inocência. Ela se alegra ao ver raposas e esquilos roubando bagas e fica triste ao ver o horizonte envolto em nuvens escuras.
E quanto àquele garoto, um sentimento complexo mas imaturo saia de seu coração. Sozinha neste mundo, ela não tinha nem o poder ou força para realizar o seu desejo mas ela podia compartilhar dele, visto que ela tirava vida ao compartilhar de seus fardos.
Vol. 2[]
Enquanto ela olhava a imagem fraturada da Lua carregada pelas ondulações das Águas Termais, o jovem derramou seu coração nela.
Ela aprendeu muitas coisas com suas palavras.
E de seu silêncio, ele fortaleceu sua confiança em si mesmo.
A Fada da Fonte entendeu vagamente que existia bem no mundo além da luz do luar e das frutas, e mais escuridão que meras nuvens. O garoto falou para ela de florestas e árvores, cidades e muralhas, e ela compartilhou com ele suas alegrias, tristezas e medos.
A medida que o ouvia, ela se fascinava cada vez mais com esse mundo imperfeito que havia nascido.
Quando o menino ficava frustrado com sua impotência, a Fada da Fonte enxugava suas lágrimas com suavidade e silêncio. Através das lágrimas dele, ela passou a entender um pouco mais o mundo fora da fonte.
Ela purificou as lágrimas que caíram em um riacho, transformando-as em néctar que trouxe doces sonhos ao menino. Este último esqueceu a dor que ele habitava ao acordar, e encontrou o seu novo amigo em sua fonte do seu sono.
Toda vez que acontecia, a Fada também sorria, dormindo nas Águas Termais envolvida na luz da lua. O orvalho fresco nutriu os sonhos do menino, e seus sonhos rejuvenesceram a alma só da Fada.
Nesses sonhos, a Fada da Fonte contava ao menino, histórias do distante reino de Hydro. Ela falou de sua pátria azul safira, cantou sobre a saudade do exílio e suspirou por separação e pertencimento. Nesses sonhos, o menino se tornava aquele que ouvia em silêncio, que chorava por seus problemas e que se alegrava com sua felicidade.
Com o tempo, a Fada da Fonte ganhou o poder de falar através das memórias e sonhos do garoto. Com o tempo, eles se tornaram amigos e compartilhavam tudo.
Vol. 3[]
Quando o vento deixou de soprar, o reflexo fraturado da Lua nas Águas Termais se uniu, e o garoto ouvia a voz da Fada pela primeira vez.
Fadas são delicadas, seres sensíveis além do entendimento de humanos, e o garoto sentia-se enfeitiçado pela sua voz gentil e elegíaca.
Mas as fadas são mais tenras e sensíveis além do alcance humano, portanto, através do olhar do garoto, ela viu o seu desejo inexcedível e a promessa que estava prestes sair dos seus lábios.
E de repente, a Fada ficou assustada.
As vidas dos mortais são fortes, mas passageiras, e o menino deve crescer, e envelhecer. Uma vez que a juventude e a inocência tenham desaparecido, como ele trataria seus descendentes elementais? No crepúsculo de sua vida, será que ele se culparia por desperdiçar sua vida por uma promessa infantil?
A Fada da Fonte é pura e gentil, mas não é ciente sobre o que é amor verdadeiro no mundo dos seres humanos. Ela nunca testemunhou os milagres da humanidade, e ficou indiferente à mudança de milhares de anos. Por essas razões, ela tem medo da separação.
O que os humanos veem como o milagre da devoção, as fadas percebem apenas como um prazer fugaz. E até mesmo o poder das fadas não pode reverter o envelhecimento de quem ama.
A delicada Fada da Fonte não conseguia aguentar ver esse dia inevitável chegar, e com um beijo ela impediu o garoto de proferir suas palavras. Mas o garoto, em sua inocência, entendeu sua rejeição como a aprovação de sua promessa.
Daquele momento em diante a Fada jurou que ela algum dia iria ter coragem de deixá-lo. E o garoto jurou que permaneceria próximo a fonte sempre.
Vol. 4[]
Anos se passaram, o garoto cresceu, fez novos amigos e viveu experiências.
E a Fada da Fonte cantou para ele suas silenciosas lamentações como o fazia em sua juventude.
Até que o dia finalmente chegou, quando ela partiu, e não mais olhou para o garoto. Nunca mais as palavras saíram do som da água escorrendo na fonte. Nunca mais o reflexo quebrado da lua se tornou inteiro. Subitamente, a fada percebeu: apesar dela achar um lugar a que pertencia, e também ter experimento uma felicidade fugaz, ela ainda estava só.
O garoto, agora não mais um garoto, não conseguia perceber sua partida, e culpava a si mesmo por sua solidão.
"Talvez ela fosse uma mera fantasia infantil."
Ele pensava isso consigo mesmo à medida que ouvia o borbulhar da fonte.
Mas aquele beijo foi real, assim como era o vento que mexia no seu cabelo. De repente, ele percebeu apesar dele ter conhecido e se separado de incontáveis novos amigos, e que ele tinha se aventurado e retornado mais vezes do que podia lembrar, ele ainda estava sozinho.
Então, como eles tinham feito muitos anos antes, as lágrimas do garoto caíram na fonte pura, molhando a imagem fraturada da lua. Mas desta vez, a Fada da Fonte não veio como ela tinha prometido. Teimosamente, ela deu as costas, preferindo permanecer o objeto de um sonho de criança inocente, aceitando ser apenas uma visitante passageira de um mundo distante, mas se recusando a permitir que sua longevidade quebrasse a promessa de amante dela.
A lenda diz que quando chove, as gotas que caem a fonte se misturam com as lágrimas da Fada.
Até o dia de sua morte, o garoto acreditou piamente nessa superstição infundada. Mas, infelizmente, a Fada da Fonte, que fugiu de seus próprios sentimentos nunca poderia ela mesma acreditar nisso.