As Mil Noites é uma Coleção de Livros encontra em Sumeru. Todos os 6 volumes desta coleção de livros são encontrados como Páginas Rasgadas de seu respectivo volume.
As Páginas Rasgadas para os volumes 4, 5 e 6 podem ser encontradas espalhadas pelo Grande Mar de Areias Escarlates.
Vol. 1[]
Vol. 2[]
Vol. 3[]
Vol. 4[]
- O Conto do Pesquisador -
Era uma vez um pesquisador sobre quem todas as marcas do homens das letras arrogantes poderiam ser vistos, apesar de que ele próprio, e seremos generosos com ele aqui, não é o melhor entre seus contemporâneos.
Conhecimento é como uma fruta, e o tempo rapidamente leva seu frescor embora. Se ele não puder comer tudo enquanto ele ainda está suculento e maduro, o resto pode ter um gosto doce e decadente.
"Tempo," o jovem pesquisador disse, "você realmente é meu odioso inimigo, até mais do que eu considero meus colegas."
Tais características inatas como a preguiça não podem ser facilmente abandonadas. Dessa forma, invernos se tornaram verões e assim por diante, trazendo glória e louvor aos seus colegas, enquanto ele era deixado como as cicatrizes de seus anos passados.
Talvez esse era algum truque do destino, mas nosso protagonista de fato descobriria uma maneira de tornar seu desejo realidade, acidentalmente, para falar a verdade.
"O tempo parece justo, apesar de ser apenas uma camada superficial. Eu não sou tão sagaz quanto os outros devido a falta de talento. Não, é a crueldade do tempo..." Assim pensou o pesquisador, já não mais jovem. "Agora que minha chance chegou, eu devo usá-la bem."
Então ele fez seu desejo ao Jinni ferido: "Eu desejo que o tempo seja justo... para que eu possa escrever teses melhores."
O Jinni o entendeu facilmente, dizendo: "Tudo tem seu preço."
"Bem, sim, e eu claramente já paguei metade dele," ele disse, balançando os ombros. "Eu desperdicei minha juventude em busca de perseguições frívolas.
"Se este é o seu desejo," o Jinni respondeu sem compromisso, não obstante, realizando o desejo do pesquisador.
Mas se esse foi verdadeiramente um Jinni ou algum demônio disfarçado era questão de disputa, especialmente em retrospectiva. Deixando essa questão de lado, o pesquisador cujo desejo foi realizado percebeu que tudo agora havia se tornado lento comparado ao seu raciocínio.
"Bom, bom. Agora, a agilidade da minha mente não será um problema." Primeiramente, o pesquisador estava muito contente. Agora que ele tinha uma folga ampla, por assim dizer, havia muito tempo para considerações contemplativas. O tempo que levou para um grão de areia cair até à terra não era suficiente para ele levantar sua mão esquerda para tocar em sua testa, mas sua mente podia correr durante este tempo - da floresta até o deserto, das vastas planícies até a tundra nevada, ele podia mesmo correr. Ele amaldiçoou que todas as páginas de um livro não podiam ser distribuídas uma do lado da outra, mas deviam ser passadas de uma para a outra. Mas mesmo que elas fossem colocadas uma do lado da outra, seus olhos teriam falhado em se mover rápido o suficiente. No momento que seus olhos terminavam de repousar sobre uma palavra, ele já teria exaurido todo o vocabulário relacionado àquela palavra, e todo o imaginário pertencente àquele vocabulário.
"Eu penso muito e escrevo pouco," o pesquisador pensou em seguida. "Eu devo usar as palavras mais elegantes para escrever o artigo mais academicamente rigoroso." Mas quando ele tinha registrado a primeira palavra, seus pensamentos já haviam pulado para a conclusão. Então ele devia constantemente repetir o texto para si mesmo, e enquanto ele ditava o texto silenciosamente, ele se tornaria cada vez mais refinado - quando tudo foi dito e feito, sua mão direita ainda não havia escrito sete palavras.
Dessa forma, este era um incrível trabalho, composto pelo melhor léxico e a lógica mais sólida, composto pelo próprio corpo do pesquisador. Cada passagem esfarrapada, como se alguém tivesse triturado cada página e as tivesse reunido atropeladamente. As palavras que estavam conectadas pareciam fragmentos aleatoriamente selecionados de um texto completo, e ninguém conseguia perceber a conexão entre elas.
Foi em uma noite sem estrelas quando ele, com toda sua força, como alguém concluindo um êxodo de séculos de duração, conseguiu deixar seu escritório, chegando ao seu pátio no andar de baixo.
"Talvez falar seja mais direto do que escrever," ele disse, um único fio de esperança permanecendo em seu coração. Mas até a sua voz parecia tropeçar depois de uma linha de seus pensamentos. As sílabas dele saiam desconsertadas e fragmentadas - como se a intenção por trás das palavras haviam mudado enquanto eram ditas, então elas saiam como meros murmúrios e choramingo.
"Ah, que pobre coitado! Alguém pode até pensar que eles está possuído!" Assim disse o grupo jovem e bem-vestido que o olhou com simpatia. "Mas pelo menos ele ainda possui a lua."
Eles saíram após dizer estas palavras, deixando o pesquisador sozinho do pátio banhado pelo luar, preso na prisão que ele já chamou de corpo. Então, a mera casca do homem mortal começou a se lembrar de uma história que ele tinha lido...
Vol. 5[]
- O Conto do Espelho, do Palácio e do Sonhador -
Noite após noite, ela sempre sonharia com aquele palácio distante. Sua estrutura intrincada era formada por esquinas, arcadas e passagens infinitas, e em cada esquina havia um espelho com uma moldura dourada. Dizem que o rei passou 200 anos (6 anos mais deve ser adicionado se alguém quiser seguir a numeração de anos naqueles tempos) para projetar este lugar, e ao sentar no trono, ele podia vislumbrar qualquer espelho, e através de seus caminhos de luz primorosamente contorcidos e planejados, qualquer um poderia ver qualquer canto de seu reino. Entretanto, quando ela olhou para os espelhos nos fins dos corredores no sonho dela, tudo que ela conseguia ver era uma imagem borrada: aquela de uma jovem mascarada trajada com vestes de qualidade, usando ornamentos adoráveis, andando pelos corredores opulentos, como uma distorção de calor em no ouro escaldante do dia. Naquele momento ela sabia que seu propósito, apesar de parecer estranho, ela desejou ganhar uma audiência com aquele rei e contar algo a ele, pois aquelas palavras haviam sido colocadas em seu coração e não eram dela para que ela as comandasse, apesar de que ela sempre deixava as palavras em algum lugar nas luzes dos espelhos cada vez que ela acordava de supetão.
Ano após ano, tão claro em seus sonhos quanto a alvorada, ela tentava, e falhava, encontrar um caminho até o trono, e ela também não encontrava aquele rei em pessoa. A jovem que já esteve perdida entre os espelhos agora era uma maga famosa, e mesmo assim, naqueles momentos em sonho roubados, naqueles lampejos de lucidez inconsciente, aqueles pensamentos fantásticos ainda mantinham a alma dela com um punho de ferro. Um dia, a grande maga descobriu pistas para finalmente alcançar aquele reino distante. Abandonando tudo aquilo que o mundano possa considerar querido, ela partiu em sua jornada sozinha. Através do luar manchado ela velejou, através dos vales sombreados ela correu, e as florestas mais sombrias ela desbravou, até que, finalmente, ela alcançou o reino de seus sonhos. Mas que lástima! Aquela cidade havia sido aniquilada em um terrível incêndio algumas centenas de anos atrás, e o reino que era próspero naquele momento, já não existia mais. Exatamente como os poetas dizem:
A brisa matinal é esquecida por todos,
canção e cor desaparecem de vista.
Apenas o fraco brilho de altas torres,
ilumina a noite morta e arruinada.
Ela entrou no palácio devastado e andou entre as ruínas. Os espelhos e suas molduras douradas há muito haviam sido estraçalhados, com nada além de seus restos destruídos remanescentes, cada fragmento refletindo um raio do luar arrepiante. A corte não era bizarra ou estranha como era nos sonhos dela - em alguns poucos corredores e esquinas, ela estava batendo na porta da sala do trono. Era um salão circular com centenas de espelhos pendurados das paredes de pedra - apesar de que como os espelhos nos corredores, a maioria desses também haviam sido destruídos. A maga subconscientemente andou até o trono há muito vago e sentou-se, olhando para um dos espelhos ainda inteiros.
Naquele espelho, ela visualizou aquela jovem mascarada trajada em vestes de qualidade, andando pelos corredores opulentos, e atrás dela, os espelhos - espelhos que nunca haviam sido despedaçados - refletiam mil reflexos de sua forma.
Ela se assustou e levantou a cabeça, já que aquela jovem agora estava diante dela, observando silenciosamente, uma dor inimaginável em seus olhos. A maga tinha acabado de pensar em algo para dizer quando a mulher empunhou uma adaga - antes de esfaqueá-la no coração. Uma brilhante rosa em florescimento agraciou a ponta silenciosa da lâmina enquanto chamas se acendiam ao redor dela, consumindo o salão que já havia sido destruído por grandes chamas mais uma vez.
Ela sorriu em confusão, espanto e alívio, pois a mulher então tirou sua máscara, revelando as feições da própria maga, lábios secos tremendo levemente.
Desta vez, a maga podia finalmente ouvir as palavras da outra pessoa - palavras que se perderam através das décadas e séculos dentro deste sonho labiríntico e sua perplexidade do entardecer. Era uma história, uma história contada por ela a si mesma, uma história refletida em milhares de estilhaços despedaçados de prata, ecoando um no outro, para sempre...
Vol. 6[]
- Conto do Caça-Pássaros -
Esta é a história de um velho que persegue pássaros.
Ao norte do reino fica uma densa floresta. Ela é o lar de um pássaro que pode imitar as palavras das pessoas. Eles frequentemente se reúnem como uma nuvem no nascer do sol. Tonalidades iridescentes dançam em suas asas, e o seu chilrear ecoa junto das copas das árvores. Um velho,
Assim como uma árvore imponente já foi delicada, o velho costumava ser belo. Ele cresceu em uma vila perto da floresta. Ele era ágil e gentil, e como resultado tinha conquistado muitos afetos, toda garota na vila o adorava. Mas o coração do jovem batia apenas pelo seu amor, uma jovem sacerdotisa servindo na floresta quem sempre o fascinou com milagres do divino.
O jovem acreditava que ele desistira de qualquer coisa para estar com a garota, até que a morte os separou.
Aquilo que é doce nunca dura. Uma guerra que se provou sem fim foi deflagrada, e todos com idade adequada foram recrutados, incluindo o jovem. Antes de ele sair para o campo de batalha, ele viu seu amor chorar pela primeira vez. Lágrimas desceram em suas bochechas como orvalho caindo de uma folha verde, elas caíram com força no coração dele. Mesmo assim ele mal sabia da real razão por trás da melancolia da garota. Ele fez promessas apressadas, desejando acalmar a tristeza da garota, tristeza que vem da despedida, como ele então acreditava.
Com pesar estampado na cara dela, a garota não respondeu aos belos votos. Após um breve silêncio, ela disse que mandaria pássaros falantes para ele. Eles transmitirão minhas palavras de saudades para ele. Apesar de ser pego de surpresa pelo pedido peculiar, o jovem pensou que a garota está usando seus maravilhosos poderes para fortalecer seu elo.
Ele acenou.
No dia seguinte, o jovem partiu para se juntar ao exército do rei. A guerra acabaria logo, ele pensou. Mas ele seria provado o contrário. A guerra durou tempo demais, até a barba crescer em seu queixo, até seus olhos e mãos serem calejados por ela.
Nesta guerra brutal, seu único refúgio eram os pássaros de sua terra natal. Como se guiados pelos deuses, eles sempre conseguiam ir até ele em noites quietas, trazendo palavras da sacerdotisa.
A separação sustentada não diminuiu o amor dele por ela. Ao invés disso, se amor fosse um monumento, ele teria sido direcionado ao seu coração.
Quando a guerra finalmente acabou, ele se apressou de volta para casa para pedir sua amada em casamento, para apenas encontrá-la morta de uma doença aguda em uma noite fria logo após sua partida.
O jovem se recusou a aceitar, pois ele já tinha sido visitado por um pássaro falante no dia anterior, quando a jovem sacerdotisa leu para ele uma belíssima prosa por sua boca.
Ele invadiu a câmara privada da garota. Conforme a luz do sol preencheu a sala pouco iluminada, ela abalou o que estava dentro dela: inúmeros pássaros encantados aguardando ser acordados de seu sono. No próximo momento, da porta que ele abriu, passaram pelo seu corpo, por seus ouvidos, voaram para o céu como uma nuvem etérea. Os pássaros voltaram para casa, o jovem permaneceu lá, com o quarto vazio de seu amor perante ele.
Ele finalmente percebeu o motivo da garota ter feito os arranjos mais incomuns com aquela expressão triste no rosto na noite em que eles partiram.
Foi um arranjo de toda uma vida. No leito de morte dela, ela deve ter ensinado aos pássaros incontáveis palavras, mais do que são necessárias para preencher cada noite dele desde então com uma cintilação de luz.
Pássaros vivem muito mais do que os humanos acham. Daquele dia em diante, o jovem persegue os pássaros falantes na floresta. Ele busca capturar sua alma remanescente nas vozes deles, para reparar o pecado de espalhar o amor dela na floresta. Enlouquecido, porém incansável, o jovem parou sua busca nem por um único dia enquanto chegava a meia-idade, e enquanto chegou à idade avançada. Os pássaros falantes já não falam nada de novo, e seus números diminuíram. Mas e se ainda houvesse um que ele ainda não encontrou, um com algo dela que ele ainda não conhece? A obsessão prende o perseguidor de pássaros na floresta. O preço dos anos estampado em seu rosto.
Ele consegue armar armadilhas com bastante habilidade para capturar os pássaros. Ele os mantém em uma gaiola, alisando seus pescoços, brincando com eles, e os dando o melhor da safra e a mais limpa das águas. Então, ele fala com eles, "Falem, Pássaros Falante, falem do meu amor, a quem a floresta favoreceu tanto. Fale sobre o que ela os ensinou."
Assim, os pássaros generosamente alimentados contarão tal história...